Até amanhã camarada!

Álvaro Cunhal morreu e com a sua morte iniciaram-se as habituais loas funerárias. Tenho para mim que é tão mau e desadequado só reconhecer valor aos indivíduos postumamente, como erigi-los após a sua morte em algo que nunca foram.
Não tenho dúvidas que Álvaro Cunhal era um homem admirável de grande carácter e grande resistente (como só pode ser admirado alguém que resiste lúcido a sete anos de isolamento carcerário e ás torturas físicas e psicológicas de que foi vítima).
Creio, contudo, que não foi ele um dos principais obreiros da Revolução de Abril, assim como sei que a sua principal luta nos anos quentes do PREC era para instalar em Portugal um regime de estilo soviético e se possível de matriz estalinista e já não uma democracia. Tenho a convicção que se tivesse conseguido o seu obejctivo, entre muitas outras coisas mais graves, eu não poderia estar aqui a escrever e publicar estas plavras, ou pelo menos não poderia fazê-lo sem receio das consequências desfavoráveis que daí adviriam. Por isso me arrepio quando ouço, hoje, alguns a tentar embandeirar Álvaro Cunhal em grande arquitecto da democracia.
Apesar disso, e porque creio em algo para além da morte, mesmo para aqueles que nisso não crêem, daqui lhe digo: até amanhã camarada!

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