Fernanda Câncio ou a mulher de César

Quando não tenho nada que fazer, o que acontece muito raramente, vou tentando dar uma olhadela aos jornais da pátria lusa. Dou preferência aos semanários, Sol e Expresso, não necessariamente por esta ordem.
A última grande polémica da nossa política à parte a demissão de Luís Filipe Menezes, é a da contratação de Fernanda Câncio pela RTP2, para realização ou produção, nem percebi bem, de uma série de episódios televisivos sobre não sei o quê.
E leio, nos ditos jornais, que anda toda a gente muito chocada porque o PSD resolveu dizer que ela não devia ter sido contratada, porque dorme, vive, vai lá a casa de vez em quando, enfim, tem uma relação intíma com o primeiro ministro (a qual parece confirmada, já que nenhum dos envolvidos a desmentiu).
Só posso presumir que toda essa gente que critica o levantar do problema, propondo o corte da cabeça do mensageiro, ache muito bem que uma televisão pública contrate a mulher do primeiro ministro como jornalista.
Para azar, num dos jornais já não sei qual, vinha, certamente por descuido, um apanhado de situações análogas em que cada um entendia não haver problema nenhum neste tipo de situações: ele era o Ricardo Costa e o António Costa, o Fernando Seara e a mulher. Para minha surpresa, só uma situação não era igual às outras a de Schroeder actual chanceler alemão, que casou com uma jornalista quando ainda não era chanceler, a qual, logo que ele foi eleito renunciou à profissão que exercia, pasme-se, contra a voz corrente em Portugal (mesmo a do moralista professor Marcelo) de que não existe qualquer entrave a essa situação.
E porquê? Porque a lei alemã considera impedimento o exercício do jornalismo a pessoas casadas com titulares de cargos públicos.
Estes alemães são mesmo esquisitos.
Ou seja, confundindo a árvore com a floresta, anda tudo a discutir a forma descurando a substância: deve, ou não, haver incompatibilidades para os jornalistas? Devem ou não ser reguladas? Sobre isto que é o problema de fundo ninguém se pronuncia.
E tu Fernanda, não te esqueças, à mulher de César, não lhe basta ser séria, é preciso também... que o pareça.

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