Um Forte “Rei”

O actual Governo e o actual Chefe do Executivo de Macau dificilmente poderiam imaginar pior início de mandato. Não se trata de um “ anus Horribilis” mas antes de um início de mandato “Horribilis”. No entanto, é justo dizer que estão a saber enfrentar estas dificuldades da melhor forma. A crise ainda não findou, temos por certo muito que ultrapassar ainda, desde ver a epidemia chegar ao fim até à recuperação económica de Macau depois deste forte abanão. Mas com este Governo só podemos estar optimistas. A forma decidida e capaz como até agora têm gerido esta prova de fogo, permite acreditar que no futuro a gestão será adequada aos desafios que aí vêm. Destaco entre outras algumas medidas que parecendo insignificantes permitiram manter em Macau uma harmonia que não existiu, por exemplo, aqui ao lado, em Hong Kong: o racionamento e distribuição de máscaras à população; a monitorização da rede de distribuição apelando à calma da população, desencorajando o açambarcamento e proibindo a especulação. É certo que na questão das máscaras a decisão inicial foi manchada por não incluir de ínicio os TNR, mas a forma rápida como foi corrigida, também é notável. Ainda relativamente à gestão das máscaras é de notar que ela tem por trás uma noção muito importante, existem situações e problemas que requerem intervenção governamental no mercado livre. E embora a muitos isto possa parecer uma verdade de Monsieur de La Palisse, é necessário não esquecer que o Governo anterior várias vezes se refugiou na natureza sacrossanta do mercado livre para recusar intervir nele para resolver problemas. Foi, também essa desculpa avançada pelo Governo de Hong Kong quando confrontado com a forma como Macau tinha gerido o problema. Existem outros problemas em Macau que requerem este tipo de entendimento, só podemos esperar que na sua resolução esse entendimento se mantenha. 
Mas a medida mais corajosa e por certo mais dolorosa foi o encerramento dos casinos. Encerrar aquela que é a força vital de Macau e que sustenta o grosso da economia local terá sido uma medida adequada em termos de saúde pública, mas requereu a coragem de quem não hesita nos momentos decisivos.
Agarrada a essa medida veio também uma lufada de ar fresco na promessa da utilização das reservas da RAE para fazer face ao impacto económico. Revelar que as reservas não estão lá para “inglês ver” mas para serem usadas quando for necessário em benefício da população é reconfortante para todos os residentes.
No meio da adversidade, a população de Macau conseguiu manter a força e a calma. É que, se como dizia Camões “Um fraco rei faz fraca a forte gente” o contrário também é verdade, um forte rei fortalece a sua gente, seja ela fraca ou forte. 
E se temos visto nos últimos meses tantos detractores da população de Macau por oposição à  de Hong Kong, seria talvez de justiça que viessem agora reconhecer que a forma como a população de Macau tem agido durante esta crise deve ser elogiada.
Uma palavra de apreço e admiração para os profissionais de saúde que na linha da frente todos os dias arriscam a vida para nos manter sãos e salvos. Sem eles, sem a sua dedicação, coragem e abnegação, as coisas não seriam assim.

P.S. - Embora não o tendo publicado então, escrevi este artigo há algum tempo. Publico-o agora porque só agora tive tempo e resolvi voltar a este blog. Creio que o que acima digo não está desactualizado e se alguma coisa aconteceu entretanto foi o reforço de algumas das coisas que ali digo. Entretanto outra prova de fogo agora se avizinha a retoma da actividade económica. Estando a economia de Macau totalmente dependente do exterior, seja pelo Turismo, pelo jogo ou pelos fornecimentos, também não somos autónomos na retoma. Resta-nos esperar que o resto do mundo em breve retome a a actividade para que uma retoma gradual mas sustentada aconteça.

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